A alma sem pânico.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
sábado, 24 de julho de 2010
Professor Hermógenes...
Fiquem em paz e boa leitura.
OBS: Desculpe pela formatação confusa do texto, mas é que ele foi copiado diretamente do arquivo PDF do livro "yoga para nervosos" do Professor Hermógenes de 1965.
"A COISA"
Seja o coração que dispara ou "dói" muito (dor precordial),
respiração escassa e disritmada, seja crise asmática, náusea,
hipertensão, insônia, crise hepática, tosse nervosa, membros
paralisados, caos orgânico insuportável e inquietante, seja dor
de cabeça, indisposição gastrointestinal, desânimo arrasador com
vontade de sumir ou dormir até morrer, seja ataque de pranto
ou ansiedade irracional, a verdade é que a pobre vítima cai
presa de pânico infernal ao pressentir que mais uma vez vai
ser assaltada pela
E o terror se acentua à medida que
constata encontrar-se novamente indefesa nas garras de
de
poder muito estranho, a dominá-la, a vencê-la, a desmoralizarlhe
os esforços.
A
está desgraçando a vida de muita gente, destruindo
um número sempre crescente de seres humanos. É raro aquele
que não é seu escravo e vítima sua. A clientela dos psiquiatras,
psicólogos e psicanalistas aumenta assustadoramente. A crescente
procura dos psicotrópicos está alarmando as autoridades.
Nem os próprios psiquiatras nem as autoridades sanitárias de
todo o mundo se sentem seguras, elas mesmas, contra a devastação
que a
anda fazendo. A corrida aos barbitúricos, ataráxicos,
tranqüilizantes, antidepressivos é um sinal de que a
coisa
está se tornando a maior ameaça à humanidade. Segundo
relatório do Senador Thomas Dodd, de Connecticut, "em abril
de 1965 existiam nos Estados Unidos mais de 100 mil viciados
em psicotrópicos" (1). Na França, 10% das despesas farma-
(1)
Jornal do Brasil (4/Janeiro/1968.)
42
cêuticas, em 1967, foram com psicotrópicos, isto é, drogas para
engabelar a
coisa.
As trágicas fileiras de escravos das drogas se espicham a
perder de vista pelos vales desta humanidade cada vez menos
humana e sempre mais psicodélica, vazia, enfastiada, inconseqüente
e mesmificada no sofrimento neurótico e psíquico.
Mas... que é a
coisa?
Não foi eu quem a batizou assim. São alunos meus, em
suas queixas, que lhe dão este nome genérico.
— Quando a
me derruba, não sou mais ninguém..."
— "Eu estou bem, Professor, mas, de repente, me dá
uma
que..."
— "Ah se eu pudesse vencer esta
que está me destruindo!
. . . "
— "Se eu me livrasse desta
seria outro homem..."
— " . . . é uma
horrível que eu sinto, que nem sei
dizer..."
Coisa
é o apelido dos sofrimentos e desconfortos psicossomáticos,
isto é, envolvendo corpo e mente, com perturbações
fisiológicas localizadas ou generalizadas, que, todo-poderosas e
obcedantes, o paciente não sabe como começaram nem como
terminam. Sabe somente — e com que intensidade — tratar-se
de uma experiência apavorante a vencê-lo inexoravelmente. A
vítima não sabe definir, e por isto, apelida de: a
coisa.
São componentes do quadro a impotência diante do assalto
e o conseqüente pânico. Aos primeiros e tênues prenúncios
de um assalto, sobrevém o pavor e, a vítima, tentando defender-
se, instintivamente, enrijece os músculos, faz-se tensa, põe-se
em guarda.
À medida porém que vê se agravarem os sintomas
e, portanto, a falência de suas defesas, naturalmente vai ficando
cada vez mais apavorada. O pavor determina automaticamente
maior tensão pseudodefensiva. Por sua vez, a contração do
corpo facilita o êxito do ataque da
Eis o sinistro círculo
vicioso a avassalar a vítima: os sintomas geram o medo; o
medo, a tensão; a tensão facilita e acentua os sintomas que,
por sua vez, agravam o medo e este degenera em pânico.
Em cada pessoa, a
se desenvolve segundo um esquema
particular, envolvendo, desde os níveis corticais do cérebro
até os vegetativos do sistema nervoso. Em cada paciente, se
desencadeia um circuito particular. À medida que este se repete,
se afirma, se consolida, se torna mais
ganha ser,
43
isto é, mais se torna uma
Tal circuito se desenvolve
segundo a linha de "minoris resistentia", como dizem os psiquiatras
e especialistas em psicossomática.
Quando eu disse que a
fui preciso.
Ela ganha existência e cada vez mais afirma esta existência. E
isto à custa das derrotas da vítima, como também em obediência
a uma lei universal, segundo a qual, tudo que existe
e
defende
é alimentada cada
vez que derruba sua vítima.
A vítima conhece seu circuito particular. E antes do assalto,
sabe como vai acontecer e sabe que vai ser infalivelmente vencida.
O circuito é predito pelo doente. Ao sentir as ainda
suaves, longínquas e discretas ameaças, com a mais funda e
eficaz convicção, diz para si mesmo: "Já sei. Lá vem a
coisa!
Agora estou frito. Já sei. Meu coração vai querer sair pela
boca etc.. . Estou liquidado!. . ."
Esta auto-sugestão e mais a tensão gerada pelo medo são
eficientíssimas ajudas dadas à
pelo próprio doente. São
elementos indispensáveis ao êxito do ataque. Que ironia! — é
a própria vítima que assim possibilita e agrava seus sofrimentos.
Se os sofrimentos têm origem em conflitos, como explicam
os psicólogos ou se são choques entre respostas orgânicas opostas,
como querem os fisiologistas, isto é, se a
é criada
pela mente ou pelo corpo, tem importância relativa, pelo menos
para quem sofre seus ataques. O importante é aprender como
vencer o dramático círculo vicioso.
Este livro, resultado de uma experiência bem sucedida com
centenas de casos, pretende dar a você os meios para, inteligentemente,
evitar a condição de vítima ou libertá-lo do sofrimento.
De início, é indispensável você tenha compreendido o que é,
como se forma e como se afirma o círculo vicioso.
Lembre-se de que, diante das ameaças de uma crise, das
coisas que ocorrem contra você e a favor do adversário: a)
auto-sugestão negativa, isto é, a predição dos sintomas e da
vitória do ataque; b) o medo; e c) a conseqüente tensão, com
que você procura defender-se.
Aprenda a evitá-las.
Tais coisas são concomitantes. E são sinérgicas, isto é,
reforçam-se mutuamente."
Comece por evitar a
Em outras palavras:
evite a tensão, que se alastra pelo corpo. É ela que
liga
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todos os elementos do circuito. Relaxando, você conseguirá
evitar o tal circuito, pois não oferece passagem. A habilidade
de relaxar é uma aquisição preciosa a ser feita. Adiante vamos
tratar disso.
Você precisará aprender a manejar alguns meios, algumas
técnicas. Você terá que realizar algumas transformações em
seu viver. Precisa aprender a
Isto não
lhe parece estranho?! Claro. Falar de vencer sem reagir contra,
sem armar-se, sem lutar é muito esquisito principalmente num
mundo onde o esforço pela vitória é geralmente tido como indispensável.
Se a
tem dominado você é porque você lhe tem
oposto resistência e a enfrenta cheio de tensão. Você tem oferecido
luta. Disto ela se aproveita para derrubá-lo, e assim, firmar
e defender sua existência. Qualquer luta engendra reação. Se
você agride e enfrenta a
ela sai ganhando. Se você a
teme, como vimos, ela também vence. Com
(não reação)
você poderá vencê-la. Você terá de fazer o que fez o
Mahatma Gandhi com a Grã-Bretanha: não violência. Você
terá de aprender a estratégia onipotente do
Vamos
tentar explicá-la.
45
ESTRATÉGIA
Uma das definições clássicas de Yoga é "a excelência na
ação". A ação eficaz, bem sucedida, completa, sem resíduos,
sem defeitos, e também sem desgastes desnecessários pode ser
chamada de ação perfeita ou ação yóguica. Uma que seja
incompleta, desvirtuada, exaustiva, egoística, estreita, precária,
mesquinha e ineficaz é pecado, é ação imperfeita. As ações a
realizar em nossa existência devem ser perfeitas, sem o que ficamos
endividados
e, portanto, presos a elas, obrigados a repetilas.
A ação yóguica é libertadora, portanto.
Se nos demais aspectos da vida, temos de agir com perfeição,
libertando-nos, que dizer de nosso comportamento em relação
à
Chamemo-la de angústia, neurose, servidão, conflito,
imperfeição, dependência, sofrimento, ansiedade, condicionamento,
inferioridade, fobia, doença, obsessão. . . dela é
fundamental que nos libertemos. É, podemos dizer, o mais
importante nesta vida.
Qual será o modo mais yóguico, isto é, o mais libertador
de enfrentar a
coisa?
Além das muitas técnicas e comportamentos especiais,
neste livro sugeridos, creio indispensável você mantenha incessantemente,
como fundamento e fonte de inspiração, como
orientadora da ação, uma determinada atitude mental, a ser por
você mesmo definida. Poderia eu mesmo ensiná-la. Poderia ser
mais direto e objetivo dizendo-lhe qual seja. Isto seria cômodo
para você. Mas seria o mais eficaz? Você poderia não aceitar
ou não entender o que eu dissesse. Prefiro você mesmo a
formule. Vamos recorrer a parábolas. Espero, da consideração
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delas, conclua sobre o que fazer diante da
Aprendamos
as lições das parábolas. Escutemos seus sábios conselhos semiocultos.
Comecemos:
1) Dois nadadores queriam chegar a uma casa no outro
lado do rio, bem em frente a eles. O primeiro, vaidoso com sua
força de vontade e com suas habilidades de campeão, atirou-se
à água, nadando obstinado exatamente em direção à casa, isto
é, perpendicularmente à corrente. Travou luta inglória e estúpida.
Quase morto, foi socorrido, quando, já exausto e vencido
ia sendo arrastado para as pedras.
O segundo meteu-se n'água, e
e mesmo aproveitando
a direção da corredeira, nadou em diagonal. Chegou
no outro lado num ponto abaixo a certa distância da casa onde
queria chegar. Já em terra firme, andou pela margem na direção
do rio acima e chegou tranqüilo a seu destino.
Que acha disto? Quem foi mais sábio? O primeiro ou o
segundo nadador? Qual deles foi eficaz? Por que ou com o que
o segundo realizou a tarefa? Qual foi a estratégia da vitória?
2) Um banhista saiu nadando e se afastou um pouco da
praia. Em certo ponto, se apercebeu de que estava sendo levado
por uma corrente marítima. O instinto de conservação
mandou-o retornar à praia. Começou a bracejar, tentando safarse.
Cada vez mais, no entanto, se sentia impotente de fazê-lo.
Naturalmente, sob a evidente ameaça à vida, nele foram aumentando
simultânea e reciprocamente o pavor e os esforços inúteis
e, conseqüentemente, a fadiga, com a horrível sensação de que
estava perdido. Ia morrer. Não por não saber nadar, mas porque
se
incapaz de vencer a força do mar. A praia ia se
afastando, e com ela, suas esperanças e suas forças...
Desta forma, o banhista inexperiente e teimoso é vencido.
Nadador sabido, experiente e, por isto mesmo calmo, quando
se vê na mesma situação, não se esforça e não cai em pânico.
O que faz é inteiramente diverso. Renuncia à tentativa imprudente
de chegar direto à praia. Sabe ser isto impossível. Simplesmente,
conservando-se dono de si, deixa-se levar pela corrente.
Sem pavor, vê a praia ficar longe, mas não a esperança,
mas não sua tranqüilidade. Lá adiante, a corrente, mudando
de direção reaproxima-o da terra e, ele, inteligentemente, aproveita
e salva-se.
3) Neróide era um puro-sangue inglês, inteiro, fogoso e
enorme. Dava gosto vê-lo, elegante e ágil. Temiam montá-lo.
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Eu, jovem cadete, "mascarado" de bom cavaleiro e querendo
impressionar, não tive dúvida em aceitar o risco. Nos primeiros
instantes, foi uma vitória. Tão confiante me senti, que me incorporei
a um grupo de veranistas que ia percorrer a cavalo os
campos e as serras dos arredores. Nunca um cadete se sentiu
tão vaidoso como eu naquela situação. Sabia que minha montada
era a mais vistosa e mesmo contrastante com os pangarés
cavalgados pelos outros. Sabia-me admirado e caprichava em
manter a postura ereta e elegante, aprendida nas lições de equitação.
Tudo ia bem, quando Neróide começou a demonstrar
excessiva excitação. Encurtei as rédeas, apertei as pernas e
afastei-me prudentemente dos outros, e por todas as formas,
tratei de fazê-lo sentir que quem mandava ali era eu. Ele, sentindo-
se desafiado, resolveu provar que quem mandava era ele,
e passou a demonstrar que, para ele, rédeas e cavaleiro vaidoso
nada valiam. Feito um doido, danou-se a correr, com vontade
de aliviar a carga que trazia nas costas: eu. Os companheiros
de passeio olhavam apreensivos para o espetáculo. Neróide
não escolhia por onde galopar: barrancos, espinheiros, capões
de mato... E eu em cima dele. Onde e como terminaria aquilo?
O que estariam pensando os companheiros já não importava.
A situação era de ameaça à vida ou à integridade física. As
pernas, feito torquês, apertavam as ilhargas do desvairado gigante
de quatro patas, em disparada. O pânico, alimentado
pela incerteza e pela sensação de impotência, começou a assaltar-
me. Qual seria o fim daquilo? Qual seria meu fim? Se
tivesse me abandonado ao medo, não sei o que teria havido. Defendi-
me primeiro do medo e, graças a isso, conservei-me lúcido.
Em quase serenidade, intuí a solução. Em vez de puxar as
rédeas no sentido de o estancar,
animal
sentiu-se então liberto para correr ainda mais. Eu, até então,
reconhecera-me vencido e dominado. Agora, ao contrário, era
dono de mim, embora não dele. Estava fazendo o que decidira.
O pânico fora mais porque eu me sentira vencido por algo
incontrolável. Agora, Neróide corria, mas
com meu consentimento.
Decidi fazer uma coisa que não o contrariava frontalmente:
puxei a rédea esquerda, mudando a direção da carreira.
De cabeça virada para subir a colina, talvez se sentindo triunfante
e solto, valentemente empreendeu a subida. Minha esperança
foi confirmada: o bruto acabou vencido por sua própria
estupidez. Parou cansado e eu, que aprendera a ganhar com o
48
não lutar
continuava em cima dele, dando-lhe
umas palmadinhas sonoras no forte pescoço coberto de suor
espumoso.
4) No inverno dos países frios, em cada árvore coberta
de neve, há uma lição de sabedoria para quem tenha "olhos
de ver". Quando desce a nevada, os galhos mais lenhosos, mais
fortes, chegam a quebrar sob a carga branca da neve que neles
se acumula. Os mais frágeis e flexíveis se defendem,
vergando
sabiamente,
quando há um mínimo excesso de peso. Depois que
a neve os deixa, se reerguem, e, assim, nunca arrebentam.
5) Em "Presença da Realidade" escrevi:
"Depois do temporal, era quase completa a devastação na
serra.
As árvores mais fortes, mais velhas, mais imponentes, mais
altas tinham sido as mais atingidas. Muitas destruídas, com o
tronco lenhoso dilacerado, com o cerne à mostra. . .
Os mais humildes arbustos, anônimos, flexíveis e sem porte,
se espreguiçavam, indenes, se erguiam festivos, respondendo aos
beijos mornos dos primeiros raios do sol ressuscitado".
O combate do toureiro hábil em vencer e o parto sem dor
são também ações yóguicas.
Poderia continuar fazendo desfilar diante de você os muitos
outros símbolos de uma atitude sábia comum em todos que
sabem enfrentar lutas, ameaças, agressões, adversidades, sofrimentos,
e mesmo aquelas desgraças tidas por invencíveis e inevitáveis.
O segundo nadador, o que atravessou o rio; o outro que
soube sair da corrente marítima; o cavaleiro de Neróide; o raminho
tenro vergado pela neve; as humildes plantas da floresta
devastada pelo temporal; todos eles sobreviveram ao desastre
graças a uma estratégia, que é a mesma em todos os casos.
Você é capaz de descobrir qual é? Em que consiste a sabedoria
dos vitoriosos?
Se você já chegou a descobrir esta forma inteligente de
conduzir-se, ou ação yóguica, meus parabéns! Nunca mais a
coisa
o vencerá. Desde já você tem sua libertação garantida.
O primeiro nadador, que quis atravessar o rio perpendicularmente,
foi vencido porque: a) lutou frontalmente com
um adversário muito mais forte; b) foi teimoso; c) não soube
evitar o pânico. Por que razão o outro foi morrer afogado na
corrente marítima? Se você não repetir a resposta do caso an-
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terior, desculpe, mas tenho todo o direito de desconfiar de sua
inteligência. Qual teria sido meu fim, se estupidamente continuasse
a querer vencer um cavalo disparado e enlouquecido, à
custa de contrariá-lo com as rédeas? Já imaginou o que teria
acontecido se eu me deixasse dominar pelo pânico?
Depois de termos concluído sobre o que de errado andaram
fazendo os lutadores vencidos, vamos aprender daqueles que
triunfaram.
O segredo da sua ação eficaz parece estar em: a) serenidade,
indispensável ao controle de si mesmo; b) concessão
voluntária, inteligente e estratégica
à "vontade do adversário"
(correnteza do rio ou do mar e a carreira do cavalo disparado);
c) utilização
dos esforços
e dos meios certos.
A forma de agir diante de uma crise qualquer é inteiramente
diferente daquela do caipira bravo e lutador, que se mete no
mar disposto a vencer,
a pancada das ondas e que,
provavelmente, sairá do combate de costelas fraturadas. O
esperto freqüentador de praia jamais comete tal imprudência.
Faz o corpo mole e, serenamente, apenas se abaixa ou fura a
onda e sai ileso.
Experimente o mesmo da próxima vez, quando se vir numa
situação adversa, numa crise de qualquer espécie. Nunca se
meta a enfrentar as ondas do sofrimento com peito aberto e pé
atrás. Relaxe. Negaceie. Deixe passar a onda e, se tiver habilidade
suficiente, aproveite inclusive a força que o destruiria
e faça como alguns banhistas — conserve-se na crista e vá
soberanamente até à pfáiá, fazendo "jacaré".
Ousamos concluir que, em face de uma crise de neurose de
angústia, sejam quais forem suas manifestações, o que devemos
fazer é: a) não lutar frontalmente contra os sintomas; b) não
insistir no esforço ineficaz; c) não cair presa do medo decorrente
da sensação de impotência. Em resumo:
não luta! e não
medo!
Não lute. Não reaja. Não resista
contra a
coisa
ou contra qualquer assalto da desdita, quando sejam inevitáveis,
invencíveis, incontroláveis e além de suas forças. Não
resista. Faça como os raminhos tenros que se vergam com o
peso da neve, deixando-a cair. Faça como os frágeis arbustos,
que o vendaval não consegue arrebentar.
Reação frustrada, resistência destruída só servem para evidenciar
nossa própria derrota e é isto que dá medo. Este, por
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sua vez, destrói a eficácia dos esforços, pois cria tensões desastrosas
.. . E assim, a vitória será sempre da
da adversidade,
da inferioridade, do vício, de tudo quanto nos quer vencer,
reter, escravizar e destruir.
Vamos ser mais objetivos e práticos. Vamos a exemplos.
Que é a crise asmática? Como superar uma?
A angústia de quem se vê arrastado para a destruição, seja
por um cavalo enlouquecido ou uma correnteza de praia é idêntica
à de um asmático em crise. Aos primeiros sinais prenunciadores,
o doente diz a si mesmo: "Pronto. Hoje estou frito.
Daqui a pouco estarei chiando e me afogando em gosma. . ."
A partir daí, trata de fazer
heróicos para respirar;
começa a lutar contra a crise, embora convencido de que tais
esforços serão impotentes. . . É como o que quer sair da correnteza
e nadar para a praia. Quanto mais se esforça, mais se apavora
por ver-se frustrado e sem esperança, e quanto mais se
apavora, mais se enrijece todo, criando, assim, não só maiores
necessidades respiratórias, pelos esforços, como também maiores
obstáculos à respiração, pela maior produção de gosma e constrangimento
nas passagens de a r . . . Sem o mínimo êxito, vê,
horrorizado, desencadear-se o dramático círculo vicioso: afogamento,
esforço, pânico, tensão, agravamento da crise. . .
Autorizado por comprovações experimentais, posso dizer
que a estratégia do
que tenho ensinado, consegue não
somente evitar o ataque a desencadear-se, como também suspendê-
lo, se já iniciado.
pode ser traduzido por não reação.
Olhos esbugalhados de pavor, ofegante e sentindo-se miseravelmente
sem esperanças, a moça, sem poder falar, por gestos
angustiados, e sintomas evidentes, pedia-me ajuda. Mandei-a
deitar-se na esteira e comecei a falar-lhe: "Não lute contra a
crise! Não resista! Não tema! Largue-se! Fique imóvel! Reduza
a zero seus movimentos. Pare. Diminua assim a necessidade de
respirar. Não se esforce por mais ar! Quieta! Serena! Deixe a
crise tomar conta! Acalme-se! Nada de medo! Seu pavor é que
lhe prejudica! Quieta! Você já não precisa quase respirar. Está
vendo?! Comece a comandar o relaxamento de todo corpo! Entregue-
se a Deus Onipresente, que vai agir, desde que você se
confie a Ele. Enquanto você estiver lutando, não dá a Ele a
oportunidade de tomar conta de você. Deixe-o agir. Largue-se.
Assim. De olhos fechados, afrouxe todo corpo. Com corpo frouxo,
sem tensões, vai-se reduzindo ainda mais a necessidade de
respirar. Vê como a calma vai se restaurando? Vê como está respirando
cada vez menos... e já desimpedidamente? Vê como
Deus sabe salvar-nos de qualquer sofrimento, desde que, na
hora exata em que nos sentimos impotentes, confiamos tudo,
totalmente, à sua Onipotência, Onisciência e Onipresença? Vê
como Deus sabe dirigir as reações de nosso organismo? Vamos:
relaxe mais, cada vez mais. . . Que tal esta sensação de segurança
e serenidade, que está substituindo o medo? Vê como é
Divina a
vitória sem luta, sem ansiedade, sem reação, sem
violência?. . .
Esta paz gostosa está a seu alcance todas às vezes
que quiser!. . . Sempre que nova crise quiser tomar conta de
você, lembre-se disto: não lute; não tema; entregue-se a Deus;
relaxe; deixe que a
por si mesma, descubra que já não
tem domínio sobre você!..."
Este caso não é hipotético. Igual a ele, tenho tido muitos
outros.
Um dos mais interessantes, porque logrou certa notoriedade,
foi com uma irmã vicentina na Santa Casa de Misericórdia
do Rio. Baixou à enfermaria 32, em plena crise de asma, agravando
seu enfisema pulmonar, depois de ter recebido extrema-
unção, sendo, portanto, esperada sua morte.
O Divino Médico
inspirou-me a abordar o caso, apelando, antes de mais
nada, para os sentimentos e convicções religiosas da paciente.
— "Irmã, todos os dias, a senhora diz "seja feita a vossa
vontade", não é?.. ."
Semi-sufocada, com dificuldade, confirmou.
— "A senhora diz, mas não cumpre — acusei-a, com
um sorriso amigo, como a pedir desculpas pela impertinência.
A senhora precisa realmente deixar Deus tomar conta de seu
corpo. Vamos aprender a fazer isto? Quer apostar como nunca
sentiu maior felicidade do que vai sentir agora, confiando seu
organismo e todos seus problemas ao Supremo? Vou ensinarlhe
a realizar, no organismo, o "seja feita a vossa vontade", e
a senhora vai ver como, agora mesmo, a crise vai cessar, pois
Deus não falha, quando toma conta. A senhora só está assim,
asmática, sofrendo tanto, porque ainda não sabe como
deixar
Deus tomar conta. Ao contrário, a senhora só tem tido fé em
sua própria luta contra esta
Até agora, só tem usado seus
próprios recursos. E isto só lhe tem trazido ansiedade e frustração
. . . Agora mesmo vai mudar de atitude. Pare de fazer esforço,
consinta que Deus entre em ação. Feche os olhos..."
52
E comecei a ensinar-lhe a relaxar.
O resultado foi impressionante. O nervosismo cedeu. O pavor
foi substituído pela calma. A respiração foi se minimizando
até que, semblante muito sereno, parecia adormecida. Havia
então silêncio em sua alma, envolvida até então em luta inglória,
estafante e desastrosa. Tendo aprendido a relaxar, à medida que
os dias se passavam, mais profundamente foi conseguido entregar-
se a seu "Príncipe" ( i ) , e dentro de um mês, ela, que já não
é jovem e parecia condenada à morte, voltou a seu caridoso
serviço. Pode considerar-se curada, pois já tendo sido assaltada
por recidivas, comportou-se inteligentemente, isto é, seguindo a
estratégia que aprendera.
O que foi dito para a crise asmática, é valido para qualquer
dos múltiplos quadros com que a
martiriza a vida de
inúmeros. Quaisquer que sejam os sofrimentos psicossomáticos,
quaisquer que sejam os sintomas neurovegetatives, utilize a
estratégia. Vai dar certo. Garanto-lhe.
Se o que você sente é taquicardia, no próximo assalto, sem
alarmas, deixe o coração livremente dançar sua rumba. Sentado
ou deitado, apenas relaxe. É assim que procede um grande advogado
carioca que, antes de ser meu aluno, tentara, inutilmente,
os mais modernos tratamentos.
Sem receio, largue o coração a si mesmo e diga-lhe: "Pode
bater à vontade. Você não me assusta mais. Vamos. Bata como
quiser. Não vou lutar contra v o c ê . . . " Desta maneira, faça uma
surpresa ao coração. E ele, meio frustrado, dirá: "Ué! Que está
acontecendo?! Já não consigo apavorá-lo!"
A
sem ser combatida, sem ser temida, acaba por
sentir-se desmoralizada, deixando você em paz. Não é isto o
que você quer?!
Se em vez de ser uma neurose de angústia é um vício, um
comportamento compulsivo, mau hábito ou qualquer fraqueza
contra a qual você tem lutado em vão, experimente a mesma
estratégia, que em resumo é composta de:
— Não resistência. Não luta. Não tensão. Em linguagem
yógui:
Não medo. Não
pavor. Ao contrário, fé
Não desespero. Ao contrário
(ishavarapranidhana),
isto é, entregar-se todo e tudo a Deus. Não
tenha pressa. Nada de ansiedade. Ao contrário, paciência,
(tapas)
e persistência.
"A COISA"
Seja o coração que dispara ou "dói" muito (dor precordial),
respiração escassa e disritmada, seja crise asmática, náusea,
hipertensão, insônia, crise hepática, tosse nervosa, membros
paralisados, caos orgânico insuportável e inquietante, seja dor
de cabeça, indisposição gastrointestinal, desânimo arrasador com
vontade de sumir ou dormir até morrer, seja ataque de pranto
ou ansiedade irracional, a verdade é que a pobre vítima cai
presa de pânico infernal ao pressentir que mais uma vez vai
ser assaltada pela
E o terror se acentua à medida que
constata encontrar-se novamente indefesa nas garras de
de
poder muito estranho, a dominá-la, a vencê-la, a desmoralizarlhe
os esforços.
A
está desgraçando a vida de muita gente, destruindo
um número sempre crescente de seres humanos. É raro aquele
que não é seu escravo e vítima sua. A clientela dos psiquiatras,
psicólogos e psicanalistas aumenta assustadoramente. A crescente
procura dos psicotrópicos está alarmando as autoridades.
Nem os próprios psiquiatras nem as autoridades sanitárias de
todo o mundo se sentem seguras, elas mesmas, contra a devastação
que a
anda fazendo. A corrida aos barbitúricos, ataráxicos,
tranqüilizantes, antidepressivos é um sinal de que a
coisa
está se tornando a maior ameaça à humanidade. Segundo
relatório do Senador Thomas Dodd, de Connecticut, "em abril
de 1965 existiam nos Estados Unidos mais de 100 mil viciados
em psicotrópicos" (1). Na França, 10% das despesas farma-
(1)
Jornal do Brasil (4/Janeiro/1968.)
42
cêuticas, em 1967, foram com psicotrópicos, isto é, drogas para
engabelar a
coisa.
As trágicas fileiras de escravos das drogas se espicham a
perder de vista pelos vales desta humanidade cada vez menos
humana e sempre mais psicodélica, vazia, enfastiada, inconseqüente
e mesmificada no sofrimento neurótico e psíquico.
Mas... que é a
coisa?
Não foi eu quem a batizou assim. São alunos meus, em
suas queixas, que lhe dão este nome genérico.
— Quando a
me derruba, não sou mais ninguém..."
— "Eu estou bem, Professor, mas, de repente, me dá
uma
que..."
— "Ah se eu pudesse vencer esta
que está me destruindo!
. . . "
— "Se eu me livrasse desta
seria outro homem..."
— " . . . é uma
horrível que eu sinto, que nem sei
dizer..."
Coisa
é o apelido dos sofrimentos e desconfortos psicossomáticos,
isto é, envolvendo corpo e mente, com perturbações
fisiológicas localizadas ou generalizadas, que, todo-poderosas e
obcedantes, o paciente não sabe como começaram nem como
terminam. Sabe somente — e com que intensidade — tratar-se
de uma experiência apavorante a vencê-lo inexoravelmente. A
vítima não sabe definir, e por isto, apelida de: a
coisa.
São componentes do quadro a impotência diante do assalto
e o conseqüente pânico. Aos primeiros e tênues prenúncios
de um assalto, sobrevém o pavor e, a vítima, tentando defender-
se, instintivamente, enrijece os músculos, faz-se tensa, põe-se
em guarda.
À medida porém que vê se agravarem os sintomas
e, portanto, a falência de suas defesas, naturalmente vai ficando
cada vez mais apavorada. O pavor determina automaticamente
maior tensão pseudodefensiva. Por sua vez, a contração do
corpo facilita o êxito do ataque da
Eis o sinistro círculo
vicioso a avassalar a vítima: os sintomas geram o medo; o
medo, a tensão; a tensão facilita e acentua os sintomas que,
por sua vez, agravam o medo e este degenera em pânico.
Em cada pessoa, a
se desenvolve segundo um esquema
particular, envolvendo, desde os níveis corticais do cérebro
até os vegetativos do sistema nervoso. Em cada paciente, se
desencadeia um circuito particular. À medida que este se repete,
se afirma, se consolida, se torna mais
ganha ser,
43
isto é, mais se torna uma
Tal circuito se desenvolve
segundo a linha de "minoris resistentia", como dizem os psiquiatras
e especialistas em psicossomática.
Quando eu disse que a
fui preciso.
Ela ganha existência e cada vez mais afirma esta existência. E
isto à custa das derrotas da vítima, como também em obediência
a uma lei universal, segundo a qual, tudo que existe
e
defende
é alimentada cada
vez que derruba sua vítima.
A vítima conhece seu circuito particular. E antes do assalto,
sabe como vai acontecer e sabe que vai ser infalivelmente vencida.
O circuito é predito pelo doente. Ao sentir as ainda
suaves, longínquas e discretas ameaças, com a mais funda e
eficaz convicção, diz para si mesmo: "Já sei. Lá vem a
coisa!
Agora estou frito. Já sei. Meu coração vai querer sair pela
boca etc.. . Estou liquidado!. . ."
Esta auto-sugestão e mais a tensão gerada pelo medo são
eficientíssimas ajudas dadas à
pelo próprio doente. São
elementos indispensáveis ao êxito do ataque. Que ironia! — é
a própria vítima que assim possibilita e agrava seus sofrimentos.
Se os sofrimentos têm origem em conflitos, como explicam
os psicólogos ou se são choques entre respostas orgânicas opostas,
como querem os fisiologistas, isto é, se a
é criada
pela mente ou pelo corpo, tem importância relativa, pelo menos
para quem sofre seus ataques. O importante é aprender como
vencer o dramático círculo vicioso.
Este livro, resultado de uma experiência bem sucedida com
centenas de casos, pretende dar a você os meios para, inteligentemente,
evitar a condição de vítima ou libertá-lo do sofrimento.
De início, é indispensável você tenha compreendido o que é,
como se forma e como se afirma o círculo vicioso.
Lembre-se de que, diante das ameaças de uma crise, das
coisas que ocorrem contra você e a favor do adversário: a)
auto-sugestão negativa, isto é, a predição dos sintomas e da
vitória do ataque; b) o medo; e c) a conseqüente tensão, com
que você procura defender-se.
Aprenda a evitá-las.
Tais coisas são concomitantes. E são sinérgicas, isto é,
reforçam-se mutuamente."
Comece por evitar a
Em outras palavras:
evite a tensão, que se alastra pelo corpo. É ela que
liga
44
todos os elementos do circuito. Relaxando, você conseguirá
evitar o tal circuito, pois não oferece passagem. A habilidade
de relaxar é uma aquisição preciosa a ser feita. Adiante vamos
tratar disso.
Você precisará aprender a manejar alguns meios, algumas
técnicas. Você terá que realizar algumas transformações em
seu viver. Precisa aprender a
Isto não
lhe parece estranho?! Claro. Falar de vencer sem reagir contra,
sem armar-se, sem lutar é muito esquisito principalmente num
mundo onde o esforço pela vitória é geralmente tido como indispensável.
Se a
tem dominado você é porque você lhe tem
oposto resistência e a enfrenta cheio de tensão. Você tem oferecido
luta. Disto ela se aproveita para derrubá-lo, e assim, firmar
e defender sua existência. Qualquer luta engendra reação. Se
você agride e enfrenta a
ela sai ganhando. Se você a
teme, como vimos, ela também vence. Com
(não reação)
você poderá vencê-la. Você terá de fazer o que fez o
Mahatma Gandhi com a Grã-Bretanha: não violência. Você
terá de aprender a estratégia onipotente do
Vamos
tentar explicá-la.
45
ESTRATÉGIAUma das definições clássicas de Yoga é "a excelência na
ação". A ação eficaz, bem sucedida, completa, sem resíduos,
sem defeitos, e também sem desgastes desnecessários pode ser
chamada de ação perfeita ou ação yóguica. Uma que seja
incompleta, desvirtuada, exaustiva, egoística, estreita, precária,
mesquinha e ineficaz é pecado, é ação imperfeita. As ações a
realizar em nossa existência devem ser perfeitas, sem o que ficamos
endividados
e, portanto, presos a elas, obrigados a repetilas.
A ação yóguica é libertadora, portanto.
Se nos demais aspectos da vida, temos de agir com perfeição,
libertando-nos, que dizer de nosso comportamento em relação
à
Chamemo-la de angústia, neurose, servidão, conflito,
imperfeição, dependência, sofrimento, ansiedade, condicionamento,
inferioridade, fobia, doença, obsessão. . . dela é
fundamental que nos libertemos. É, podemos dizer, o mais
importante nesta vida.
Qual será o modo mais yóguico, isto é, o mais libertador
de enfrentar a
coisa?
Além das muitas técnicas e comportamentos especiais,
neste livro sugeridos, creio indispensável você mantenha incessantemente,
como fundamento e fonte de inspiração, como
orientadora da ação, uma determinada atitude mental, a ser por
você mesmo definida. Poderia eu mesmo ensiná-la. Poderia ser
mais direto e objetivo dizendo-lhe qual seja. Isto seria cômodo
para você. Mas seria o mais eficaz? Você poderia não aceitar
ou não entender o que eu dissesse. Prefiro você mesmo a
formule. Vamos recorrer a parábolas. Espero, da consideração
46
delas, conclua sobre o que fazer diante da
Aprendamos
as lições das parábolas. Escutemos seus sábios conselhos semiocultos.
Comecemos:
1) Dois nadadores queriam chegar a uma casa no outro
lado do rio, bem em frente a eles. O primeiro, vaidoso com sua
força de vontade e com suas habilidades de campeão, atirou-se
à água, nadando obstinado exatamente em direção à casa, isto
é, perpendicularmente à corrente. Travou luta inglória e estúpida.
Quase morto, foi socorrido, quando, já exausto e vencido
ia sendo arrastado para as pedras.
O segundo meteu-se n'água, e
e mesmo aproveitando
a direção da corredeira, nadou em diagonal. Chegou
no outro lado num ponto abaixo a certa distância da casa onde
queria chegar. Já em terra firme, andou pela margem na direção
do rio acima e chegou tranqüilo a seu destino.
Que acha disto? Quem foi mais sábio? O primeiro ou o
segundo nadador? Qual deles foi eficaz? Por que ou com o que
o segundo realizou a tarefa? Qual foi a estratégia da vitória?
2) Um banhista saiu nadando e se afastou um pouco da
praia. Em certo ponto, se apercebeu de que estava sendo levado
por uma corrente marítima. O instinto de conservação
mandou-o retornar à praia. Começou a bracejar, tentando safarse.
Cada vez mais, no entanto, se sentia impotente de fazê-lo.
Naturalmente, sob a evidente ameaça à vida, nele foram aumentando
simultânea e reciprocamente o pavor e os esforços inúteis
e, conseqüentemente, a fadiga, com a horrível sensação de que
estava perdido. Ia morrer. Não por não saber nadar, mas porque
se
incapaz de vencer a força do mar. A praia ia se
afastando, e com ela, suas esperanças e suas forças...
Desta forma, o banhista inexperiente e teimoso é vencido.
Nadador sabido, experiente e, por isto mesmo calmo, quando
se vê na mesma situação, não se esforça e não cai em pânico.
O que faz é inteiramente diverso. Renuncia à tentativa imprudente
de chegar direto à praia. Sabe ser isto impossível. Simplesmente,
conservando-se dono de si, deixa-se levar pela corrente.
Sem pavor, vê a praia ficar longe, mas não a esperança,
mas não sua tranqüilidade. Lá adiante, a corrente, mudando
de direção reaproxima-o da terra e, ele, inteligentemente, aproveita
e salva-se.
3) Neróide era um puro-sangue inglês, inteiro, fogoso e
enorme. Dava gosto vê-lo, elegante e ágil. Temiam montá-lo.
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Eu, jovem cadete, "mascarado" de bom cavaleiro e querendo
impressionar, não tive dúvida em aceitar o risco. Nos primeiros
instantes, foi uma vitória. Tão confiante me senti, que me incorporei
a um grupo de veranistas que ia percorrer a cavalo os
campos e as serras dos arredores. Nunca um cadete se sentiu
tão vaidoso como eu naquela situação. Sabia que minha montada
era a mais vistosa e mesmo contrastante com os pangarés
cavalgados pelos outros. Sabia-me admirado e caprichava em
manter a postura ereta e elegante, aprendida nas lições de equitação.
Tudo ia bem, quando Neróide começou a demonstrar
excessiva excitação. Encurtei as rédeas, apertei as pernas e
afastei-me prudentemente dos outros, e por todas as formas,
tratei de fazê-lo sentir que quem mandava ali era eu. Ele, sentindo-
se desafiado, resolveu provar que quem mandava era ele,
e passou a demonstrar que, para ele, rédeas e cavaleiro vaidoso
nada valiam. Feito um doido, danou-se a correr, com vontade
de aliviar a carga que trazia nas costas: eu. Os companheiros
de passeio olhavam apreensivos para o espetáculo. Neróide
não escolhia por onde galopar: barrancos, espinheiros, capões
de mato... E eu em cima dele. Onde e como terminaria aquilo?
O que estariam pensando os companheiros já não importava.
A situação era de ameaça à vida ou à integridade física. As
pernas, feito torquês, apertavam as ilhargas do desvairado gigante
de quatro patas, em disparada. O pânico, alimentado
pela incerteza e pela sensação de impotência, começou a assaltar-
me. Qual seria o fim daquilo? Qual seria meu fim? Se
tivesse me abandonado ao medo, não sei o que teria havido. Defendi-
me primeiro do medo e, graças a isso, conservei-me lúcido.
Em quase serenidade, intuí a solução. Em vez de puxar as
rédeas no sentido de o estancar,
animal
sentiu-se então liberto para correr ainda mais. Eu, até então,
reconhecera-me vencido e dominado. Agora, ao contrário, era
dono de mim, embora não dele. Estava fazendo o que decidira.
O pânico fora mais porque eu me sentira vencido por algo
incontrolável. Agora, Neróide corria, mas
com meu consentimento.
Decidi fazer uma coisa que não o contrariava frontalmente:
puxei a rédea esquerda, mudando a direção da carreira.
De cabeça virada para subir a colina, talvez se sentindo triunfante
e solto, valentemente empreendeu a subida. Minha esperança
foi confirmada: o bruto acabou vencido por sua própria
estupidez. Parou cansado e eu, que aprendera a ganhar com o
48
não lutar
continuava em cima dele, dando-lhe
umas palmadinhas sonoras no forte pescoço coberto de suor
espumoso.
4) No inverno dos países frios, em cada árvore coberta
de neve, há uma lição de sabedoria para quem tenha "olhos
de ver". Quando desce a nevada, os galhos mais lenhosos, mais
fortes, chegam a quebrar sob a carga branca da neve que neles
se acumula. Os mais frágeis e flexíveis se defendem,
vergando
sabiamente,
quando há um mínimo excesso de peso. Depois que
a neve os deixa, se reerguem, e, assim, nunca arrebentam.
5) Em "Presença da Realidade" escrevi:
"Depois do temporal, era quase completa a devastação na
serra.
As árvores mais fortes, mais velhas, mais imponentes, mais
altas tinham sido as mais atingidas. Muitas destruídas, com o
tronco lenhoso dilacerado, com o cerne à mostra. . .
Os mais humildes arbustos, anônimos, flexíveis e sem porte,
se espreguiçavam, indenes, se erguiam festivos, respondendo aos
beijos mornos dos primeiros raios do sol ressuscitado".
O combate do toureiro hábil em vencer e o parto sem dor
são também ações yóguicas.
Poderia continuar fazendo desfilar diante de você os muitos
outros símbolos de uma atitude sábia comum em todos que
sabem enfrentar lutas, ameaças, agressões, adversidades, sofrimentos,
e mesmo aquelas desgraças tidas por invencíveis e inevitáveis.
O segundo nadador, o que atravessou o rio; o outro que
soube sair da corrente marítima; o cavaleiro de Neróide; o raminho
tenro vergado pela neve; as humildes plantas da floresta
devastada pelo temporal; todos eles sobreviveram ao desastre
graças a uma estratégia, que é a mesma em todos os casos.
Você é capaz de descobrir qual é? Em que consiste a sabedoria
dos vitoriosos?
Se você já chegou a descobrir esta forma inteligente de
conduzir-se, ou ação yóguica, meus parabéns! Nunca mais a
coisa
o vencerá. Desde já você tem sua libertação garantida.
O primeiro nadador, que quis atravessar o rio perpendicularmente,
foi vencido porque: a) lutou frontalmente com
um adversário muito mais forte; b) foi teimoso; c) não soube
evitar o pânico. Por que razão o outro foi morrer afogado na
corrente marítima? Se você não repetir a resposta do caso an-
49
terior, desculpe, mas tenho todo o direito de desconfiar de sua
inteligência. Qual teria sido meu fim, se estupidamente continuasse
a querer vencer um cavalo disparado e enlouquecido, à
custa de contrariá-lo com as rédeas? Já imaginou o que teria
acontecido se eu me deixasse dominar pelo pânico?
Depois de termos concluído sobre o que de errado andaram
fazendo os lutadores vencidos, vamos aprender daqueles que
triunfaram.
O segredo da sua ação eficaz parece estar em: a) serenidade,
indispensável ao controle de si mesmo; b) concessão
voluntária, inteligente e estratégica
à "vontade do adversário"
(correnteza do rio ou do mar e a carreira do cavalo disparado);
c) utilização
dos esforços
e dos meios certos.
A forma de agir diante de uma crise qualquer é inteiramente
diferente daquela do caipira bravo e lutador, que se mete no
mar disposto a vencer,
a pancada das ondas e que,
provavelmente, sairá do combate de costelas fraturadas. O
esperto freqüentador de praia jamais comete tal imprudência.
Faz o corpo mole e, serenamente, apenas se abaixa ou fura a
onda e sai ileso.
Experimente o mesmo da próxima vez, quando se vir numa
situação adversa, numa crise de qualquer espécie. Nunca se
meta a enfrentar as ondas do sofrimento com peito aberto e pé
atrás. Relaxe. Negaceie. Deixe passar a onda e, se tiver habilidade
suficiente, aproveite inclusive a força que o destruiria
e faça como alguns banhistas — conserve-se na crista e vá
soberanamente até à pfáiá, fazendo "jacaré".
Ousamos concluir que, em face de uma crise de neurose de
angústia, sejam quais forem suas manifestações, o que devemos
fazer é: a) não lutar frontalmente contra os sintomas; b) não
insistir no esforço ineficaz; c) não cair presa do medo decorrente
da sensação de impotência. Em resumo:
não luta! e não
medo!
Não lute. Não reaja. Não resista
contra a
coisa
ou contra qualquer assalto da desdita, quando sejam inevitáveis,
invencíveis, incontroláveis e além de suas forças. Não
resista. Faça como os raminhos tenros que se vergam com o
peso da neve, deixando-a cair. Faça como os frágeis arbustos,
que o vendaval não consegue arrebentar.
Reação frustrada, resistência destruída só servem para evidenciar
nossa própria derrota e é isto que dá medo. Este, por
50
sua vez, destrói a eficácia dos esforços, pois cria tensões desastrosas
.. . E assim, a vitória será sempre da
da adversidade,
da inferioridade, do vício, de tudo quanto nos quer vencer,
reter, escravizar e destruir.
Vamos ser mais objetivos e práticos. Vamos a exemplos.
Que é a crise asmática? Como superar uma?
A angústia de quem se vê arrastado para a destruição, seja
por um cavalo enlouquecido ou uma correnteza de praia é idêntica
à de um asmático em crise. Aos primeiros sinais prenunciadores,
o doente diz a si mesmo: "Pronto. Hoje estou frito.
Daqui a pouco estarei chiando e me afogando em gosma. . ."
A partir daí, trata de fazer
heróicos para respirar;
começa a lutar contra a crise, embora convencido de que tais
esforços serão impotentes. . . É como o que quer sair da correnteza
e nadar para a praia. Quanto mais se esforça, mais se apavora
por ver-se frustrado e sem esperança, e quanto mais se
apavora, mais se enrijece todo, criando, assim, não só maiores
necessidades respiratórias, pelos esforços, como também maiores
obstáculos à respiração, pela maior produção de gosma e constrangimento
nas passagens de a r . . . Sem o mínimo êxito, vê,
horrorizado, desencadear-se o dramático círculo vicioso: afogamento,
esforço, pânico, tensão, agravamento da crise. . .
Autorizado por comprovações experimentais, posso dizer
que a estratégia do
que tenho ensinado, consegue não
somente evitar o ataque a desencadear-se, como também suspendê-
lo, se já iniciado.
pode ser traduzido por não reação.
Olhos esbugalhados de pavor, ofegante e sentindo-se miseravelmente
sem esperanças, a moça, sem poder falar, por gestos
angustiados, e sintomas evidentes, pedia-me ajuda. Mandei-a
deitar-se na esteira e comecei a falar-lhe: "Não lute contra a
crise! Não resista! Não tema! Largue-se! Fique imóvel! Reduza
a zero seus movimentos. Pare. Diminua assim a necessidade de
respirar. Não se esforce por mais ar! Quieta! Serena! Deixe a
crise tomar conta! Acalme-se! Nada de medo! Seu pavor é que
lhe prejudica! Quieta! Você já não precisa quase respirar. Está
vendo?! Comece a comandar o relaxamento de todo corpo! Entregue-
se a Deus Onipresente, que vai agir, desde que você se
confie a Ele. Enquanto você estiver lutando, não dá a Ele a
oportunidade de tomar conta de você. Deixe-o agir. Largue-se.
Assim. De olhos fechados, afrouxe todo corpo. Com corpo frouxo,
sem tensões, vai-se reduzindo ainda mais a necessidade de
respirar. Vê como a calma vai se restaurando? Vê como está respirando
cada vez menos... e já desimpedidamente? Vê como
Deus sabe salvar-nos de qualquer sofrimento, desde que, na
hora exata em que nos sentimos impotentes, confiamos tudo,
totalmente, à sua Onipotência, Onisciência e Onipresença? Vê
como Deus sabe dirigir as reações de nosso organismo? Vamos:
relaxe mais, cada vez mais. . . Que tal esta sensação de segurança
e serenidade, que está substituindo o medo? Vê como é
Divina a
vitória sem luta, sem ansiedade, sem reação, sem
violência?. . .
Esta paz gostosa está a seu alcance todas às vezes
que quiser!. . . Sempre que nova crise quiser tomar conta de
você, lembre-se disto: não lute; não tema; entregue-se a Deus;
relaxe; deixe que a
por si mesma, descubra que já não
tem domínio sobre você!..."
Este caso não é hipotético. Igual a ele, tenho tido muitos
outros.
Um dos mais interessantes, porque logrou certa notoriedade,
foi com uma irmã vicentina na Santa Casa de Misericórdia
do Rio. Baixou à enfermaria 32, em plena crise de asma, agravando
seu enfisema pulmonar, depois de ter recebido extrema-
unção, sendo, portanto, esperada sua morte.
O Divino Médico
inspirou-me a abordar o caso, apelando, antes de mais
nada, para os sentimentos e convicções religiosas da paciente.
— "Irmã, todos os dias, a senhora diz "seja feita a vossa
vontade", não é?.. ."
Semi-sufocada, com dificuldade, confirmou.
— "A senhora diz, mas não cumpre — acusei-a, com
um sorriso amigo, como a pedir desculpas pela impertinência.
A senhora precisa realmente deixar Deus tomar conta de seu
corpo. Vamos aprender a fazer isto? Quer apostar como nunca
sentiu maior felicidade do que vai sentir agora, confiando seu
organismo e todos seus problemas ao Supremo? Vou ensinarlhe
a realizar, no organismo, o "seja feita a vossa vontade", e
a senhora vai ver como, agora mesmo, a crise vai cessar, pois
Deus não falha, quando toma conta. A senhora só está assim,
asmática, sofrendo tanto, porque ainda não sabe como
deixar
Deus tomar conta. Ao contrário, a senhora só tem tido fé em
sua própria luta contra esta
Até agora, só tem usado seus
próprios recursos. E isto só lhe tem trazido ansiedade e frustração
. . . Agora mesmo vai mudar de atitude. Pare de fazer esforço,
consinta que Deus entre em ação. Feche os olhos..."
52
E comecei a ensinar-lhe a relaxar.
O resultado foi impressionante. O nervosismo cedeu. O pavor
foi substituído pela calma. A respiração foi se minimizando
até que, semblante muito sereno, parecia adormecida. Havia
então silêncio em sua alma, envolvida até então em luta inglória,
estafante e desastrosa. Tendo aprendido a relaxar, à medida que
os dias se passavam, mais profundamente foi conseguido entregar-
se a seu "Príncipe" ( i ) , e dentro de um mês, ela, que já não
é jovem e parecia condenada à morte, voltou a seu caridoso
serviço. Pode considerar-se curada, pois já tendo sido assaltada
por recidivas, comportou-se inteligentemente, isto é, seguindo a
estratégia que aprendera.
O que foi dito para a crise asmática, é valido para qualquer
dos múltiplos quadros com que a
martiriza a vida de
inúmeros. Quaisquer que sejam os sofrimentos psicossomáticos,
quaisquer que sejam os sintomas neurovegetatives, utilize a
estratégia. Vai dar certo. Garanto-lhe.
Se o que você sente é taquicardia, no próximo assalto, sem
alarmas, deixe o coração livremente dançar sua rumba. Sentado
ou deitado, apenas relaxe. É assim que procede um grande advogado
carioca que, antes de ser meu aluno, tentara, inutilmente,
os mais modernos tratamentos.
Sem receio, largue o coração a si mesmo e diga-lhe: "Pode
bater à vontade. Você não me assusta mais. Vamos. Bata como
quiser. Não vou lutar contra v o c ê . . . " Desta maneira, faça uma
surpresa ao coração. E ele, meio frustrado, dirá: "Ué! Que está
acontecendo?! Já não consigo apavorá-lo!"
A
sem ser combatida, sem ser temida, acaba por
sentir-se desmoralizada, deixando você em paz. Não é isto o
que você quer?!
Se em vez de ser uma neurose de angústia é um vício, um
comportamento compulsivo, mau hábito ou qualquer fraqueza
contra a qual você tem lutado em vão, experimente a mesma
estratégia, que em resumo é composta de:
— Não resistência. Não luta. Não tensão. Em linguagem
yógui:
Não medo. Não
pavor. Ao contrário, fé
Não desespero. Ao contrário
(ishavarapranidhana),
isto é, entregar-se todo e tudo a Deus. Não
tenha pressa. Nada de ansiedade. Ao contrário, paciência,
(tapas)
e persistência.
d)
Assim ela se refere a Jesus.